Há pouco mais de um ano, o casal Luana Dias e João Lucas Alves, vive um momento de recomeço e resignação. É que o jovem foi preso aos 22 anos de idade após cometer crimes envolvendo o tráfico de drogas, fato que mudou para sempre a vida dos jovens, que são sul-mato-grossenses e vivem no Estado, onde tudo aconteceu. Depois de quase um ano na cadeia, João recebeu o alvará de soltura em março deste ano e a liberdade representou uma "virada de chave" na vida do casal.

Dispostos a inspirarem pessoas, eles compartilham seus propósitos e testemunhos nas redes sociais, onde abrem o jogo e contam tudo sobre a vida em comunhão durante e após a prisão do rapaz, que hoje está com 23 anos. Luana, a esposa, tem 21 anos e foi quem deu início às publicações em seu TikTok pessoal.

"Quando seu marido sai da cadeia, mas a cadeia não sai dele", "O que meu marido aprendeu na cadeia" e "Perguntas que sempre me fazem depois que meu marido foi preso" são alguns dos títulos dos vídeos de Luana.

Em entrevista ao Jornal Midiamax, a moça, natural de Aparecida do Taboato, revela que, apesar de novos, ela e João são casados legalmente há 2 anos.

"Estamos juntos há 6 anos, desde a adolescência. Decidimos morar juntos após 4 meses de namoro, enfrentamos muitos desafios por sermos jovens e conseguimos amadurecer em conjunto. Temos uma conexão muito forte e nos apoiamos, sempre dando força e mostrando que Deus tem um propósito em nossas vidas", inicia.

"Me sinto orgulhosa da pessoa que me tornei", afirma esposa

Segundo ela, a ideia de produzir conteúdo nas redes sociais sobre a experiência como casal e em relação à prisão de João surgiu quando se sentiu sozinha e perdida. "Comecei a acompanhar outras pessoas que passavam pela mesma situação e isso me ajudou. Certo dia, decidi compartilhar nossa história em um vídeo, que teve uma grande repercussão. Desde então, senti que estava sendo acolhida e encontrei uma forma de distração que também ajudava outras pessoas", comenta.

"Meu conteúdo mostra nossa realidade, como Deus mudou nossas vidas e sempre mostrando que o caminho errado não vale a pena. Não romantizo a situação e procuro mostrar a superação, para que outras pessoas na mesma situação possam encontrar forças para se reerguer e trilhar o caminho certo e da verdade", acrescenta Luana.

Ela diz que não teve medo da exposição da história do casal porque afirma ter percebido que tudo fazia parte dos planos de Deus em sua vida. "Dentro do presídio, conheci uma realidade que poucas pessoas conhecem e fiz tudo o que pude para ajudar as famílias que lá visitavam. Vejo isso como uma forma de Deus me usar para capacitar outras pessoas e me sinto orgulhosa da pessoa que me tornei. Transformei as dificuldades em força para fazer a diferença e me sinto realizada ao saber que meu testemunho tem ajudado muita gente ", pontua.

É claro que expor nas redes sociais esse tipo de vivência abre possibilidades para todos os tipos de reações, principalmente as negativas. Mas Luana relata que aprendeu a lidar. "No início, as críticas negativas me machucavam muito. Cheguei até a excluir meus vídeos e pensei em parar. No entanto, as pessoas que me acompanhavam vieram até mim pedindo para não desistir, pois meu conteúdo as fortalecia".

"Colhemos o que plantamos", diz marido que foi preso

Ex-detento preso por comercializar drogas em Campo Grande, João Lucas Alves passou 11 meses na prisão. O momento em que deixou a cadeia foi filmado e publicado nas redes sociais de Luana, bem como toda a história por trás de seu delito. "Acredito que compartilhar nossa superação de forma natural e espontânea nas redes sociais é positivo. No entanto, é importante que, em primeiro lugar, a glorificação do nome de Deus seja evidenciada", afirma ao MidiaMAIS.

Hoje, João atua como voluntário de um projeto social, o Revivi, uma clínica terapêutica de recuperação de vícios em MS, que depende de doações. O jovem também tem forte atuação em uma Igreja Evangélica e conta que, durante o período que esteve preso, aprendeu lições valiosas sobre "superação e perseverança nos caminhos de Deus".

"Nos meus últimos dias na prisão, eu já era Liderança Religiosa no Pavilhão 3, a qual eu convivia. Fui responsável pelas duas celas da igreja e também fazia parte da cela livre, onde fica os 'faxina', aqueles que trabalham durante o dia, pagando alimento e realizando tarefas de limpeza. Tudo isso sendo conduzido por Deus", relata.

"Todos nós, em algum momento, colhemos o que plantamos, não há como fugir disso. É a Lei da Semeadura. Eu já era convertido ao cristianismo antes, tendo nascido em berço cristão. Entretanto, me afastei completamente dos caminhos de Deus aos 14 anos, quando mergulhei em um estilo de vida que não condizia com minha fé. Somente aos 22 anos, percebi a direção para a qual estava caminhando, e decidi me reconciliar com Deus", recorda o jovem.

"Antes, eu destruía famílias, mas agora ajudo as pessoas"

Ele ainda diz: "Não demorou muito para eu enfrentar as consequências das escolhas erradas que fiz durante esses oito anos. Logo após um mês de meu retorno à fé, fui preso. Esse foi o início da manifestação da justiça divina em minha vida, não para me condenar, mas para me libertar do estilo de vida que eu estava levando", declara.

Alinhado com a Igreja, João se mostra muito reflexivo sobre tudo o que aconteceu em sua vida e não nega seus erros. "Acredito que fui seduzido pela ilusão de dinheiro fácil e uma vida sem limites ou regras. Cheguei a orar a Deus pedindo proteção, mesmo enquanto fazia escolhas erradas. Essa mentalidade não fazia sentido algum! Antes, eu destruía famílias vendendo drogas, mas agora ajudo as pessoas a se recuperarem para reconstruir suas próprias famílias", reflete.

O designer gráfico também responde ao MidiaMAIS se se arrepende das ações erradas. "Sim, sinto profundo arrependimento pela vida que levei e pelas escolhas que me levaram à prisão e a todo sofrimento envolvido. No entanto, não me arrependo de ter passado por essa experiência, pois foi nela que minha personalidade foi moldada, minha vida foi transformada. Foi no deserto em que Deus me colocou que me fortaleci e encontrei a libertação do mundo", garante.

Elo muito forte e a vida após a prisão

Durante o período em que o João esteve preso, Luana diz que precisou ser muito forte. "Ele me pediu várias vezes para deixá-lo e seguir minha vida, pois não queria que eu passasse por tudo aquilo com ele. No entanto, era um pedido impossível de se realizar, pois jamais conseguiria abandoná-lo naquela situação. Eu queria apoiá-lo e mostrar que havia uma chance de recomeço. Todos nós cometemos erros na vida, e julgá-lo não era minha função. Eu queria vê-lo bem e acreditava em sua capacidade de mudança", comenta a esposa.

"Estou me formando em pedagogia e ele está cursando design gráfico. Utilizamos nosso conhecimento para ajudar na nossa igreja. Eu fico responsável pelas crianças e ele é o braço direito da igreja. Atualmente, nossa vida é dedicada à obra de Deus, pois tudo o que fazemos é por amor a Ele e como uma forma de agradecimento por todo o cuidado que Ele tem em nossas vidas", encerra ela, que se batizou depois de ter o marido preso.

Nas palavras de João, a esposa Luana representa "uma guerreira fiel, uma verdadeira parceira e a melhor amiga que alguém poderia ter. Ela nunca hesitou em ficar ao meu lado, mesmo quando eu a encorajei a seguir com a vida dela para não sofrer as consequências dos meus erros. Ela permaneceu ao meu lado mesmo nos momentos mais difíceis, quando normalmente as pessoas nos abandonam. Me importo profundamente em não decepcionar as pessoas que acreditam na minha mudança", conclui o rapaz.

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