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Recentemente, uma pesquisa realizada pelo Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (Sincep) revelou que um em cada três brasileiros tem muito medo de morrer e que metade das pessoas não estão preparadas para perder um ente querido. Olhando ao nosso redor e, principalmente para dentro de nós mesmos, podemos perceber que esse problema pode ser ainda mais complexo: somos mortais e, ainda assim, tememos a morte e fugimos dela.
Contudo, não é apenas a morte física que nos assusta. Cada vez mais, somos amedrontados por qualquer evento que anuncie o fim de um objeto, de uma pessoa ou dos processos que vivenciamos ao longo da vida. Somos devastados quando as pessoas que amamos (nossos pais, filhos, familiares, amigos e conhecidos) morrem. Mas também choramos com a perda dos nossos animais de estimação e damos um jeito de eternizá-los em nossas redes sociais e até mesmo tatuagens. Trememos diante do espelho que, dia após dia, anuncia que nosso tempo está passando e a velhice vem se aproximando. Não suportamos o fim de um amor que, com o tempo, simplesmente acabou, do mesmo jeito que começou. Sofremos com a aposentadoria, tão sonhada, mas que se revela um pesadelo para muitos, na hora de encerrar um ciclo. Padecemos ao constatar que alguns amigos, tão essenciais em alguns períodos, se distanciam e a amizade se esfria e acaba. Ficamos mal ao perdermos aquela correntinha, presenteada pela avó ou quando o sobrinho destrói um objeto de decoração, comprado naquela viagem tão excepcional.
Seja como for, precisamos reconhecer: temos medo do fim e não sabemos lidar com ele. Aliás, um outro dado interessante do estudo é que um em cada três brasileiros assumem que não sabem como ou com quem falar sobre morte. Ao contrário dos nossos antepassados que não temiam os velórios e os cultos fúnebres, as visitas aos cemitérios e, em alguns casos, até fotografavam os mortos em seus caixões, nós, do século XXI, tão aperfeiçoadas pelas novas tecnologias, evitamos e nos negamos a falar sobre o assunto. Sobre a morte, ainda prevalecem o silêncio e o medo.
Que bom seria se, durante a nossa vida, pudéssemos abrir o coração e compartilhar com os nossos entes queridos nossas reflexões sobre essa importante constatação: somos finitos e mortais. Pense em como seria importante que os doentes pudessem se despedir, abertamente, de seus familiares e amigos, possibilitando reconstrução de vínculos, perdidos em uma longa trajetória de vida. Sei que pode parecer aterrorizante. Por mais angustiante e assustador que pareça, há séculos, esse tem sido o caminho apontado por especialistas. Não há receitas ou remédios que aliviem a dor de lidar com a morte, seja a sua ou a de seus semelhantes. No entanto, falar sobre ela e se abrir à possibilidade de viver a dor e a saudade, com abertura e menos medo, são caminhos importantes para quem busca tanto a qualidade de vida e, por que não, a qualidade de morte.
(*) Alberto Mesaque Martins é Psicólogo, Doutor em Psicologia. Professor da UFMS.