“Operei com 27 anos porque eu sofria com cólicas infernais, de não conseguir sair da cama por uma semana. A endometriose era algo muito doloroso para mim. Tinha sangramento de 20 dias, então era um terror”, narra a empresária Janaína Santos, que hoje tem 41 anos.
A dor é o principal sintoma para o diagnóstico da endometriose e cólica menstrual, principalmente que gera necessidade de uso de remédio para dor todo mês – o que não é normal. Quem afirma isso é o ginecologista Antônio Miziara, especialista em Reprodução Humana.
No caso de Janaína, ela era acompanhada por um médico que explicou que o caso era grave, já que causava anemia profunda, impactava totalmente sua qualidade de vida e afetava sua saúde na totalidade.
“Eu não aguentava de dor e ele falou que não tinha outra solução a não ser fazer a histerectomia (cirurgia de retirada do útero). E aí eu fiz. Minha vida mudou completamente”, relata.
Segundo Miziara, a doença inflamatória geralmente leva anos para ser diagnosticada e pode levar à infertilidade. O problema é causado por uma célula que, quando acaba se alojando fora do útero, libera algumas substâncias inflamatórias que fazem com que o útero contraia com mais força e dê muito mais cólica no período menstrual – o sintoma mais comum.
Sintomas da doença
“Em casos mais avançados, essa endometriose profunda, avançada, pode provocar múltiplas aderências, infiltrar o intestino, a bexiga, ovário, as trompas e causar essa distorção que ela faz, estica os órgãos. Essas aderências causam dores crônicas”, detalha o médico.
Dessa forma, a endometriose pode causar, tanto dor no período menstrual, que é o sintoma mais comum, mas nos casos mais avançados ela vai causar dor crônica, dor fora do período menstrual.
“Outros sintomas são a dor na relação sexual, mudança do hábito intestinal durante o período menstrual e dor para urinar durante o período menstrual”, completa Miziara.
Ignorar dor pode atrasar diagnóstico
Apesar da dor ser um sintoma muito presente na vida das pacientes com endometriose, o diagnóstico pode não ser tão rápido porque muitos indícios complementares demoram a aparecer e só são percebidos com facilidade quando a doença está em estágio avançado.
Além disso, não existe um exame específico que detecte o problema. Por isso, o diagnóstico é dado com base, principalmente, no que a pessoa descreve como sintoma. Não é por menos, inclusive, que mulheres demorem, desde o início da doença, de 7 a 8 anos para serem diagnosticadas. O principal problema é tratar a dor como algo normal.
“Um grande problema que nós temos é a normalização da dor durante o período menstrual, inclusive pelos próprios médicos, como se cólica menstrual fosse algo normal que a mulher tivesse que suportar. Isso é cultural, até na família, às vezes, a mãe, a avó, falam que é assim mesmo, que tem que aguentar. Mas, não”, esclarece o médico.
Segundo o ginecologista, já está consolidado na medicina atualmente que a dor durante o período menstrual não é normal. “Toda dor durante o período menstrual, que necessita tomar medicação todo mês, tem que ser suspeita, tem que ser pesquisada para fazer diagnóstico de endometriose”, determina o especialista.
Exames que ajudam no diagnóstico
Exames de imagem, como a ressonância magnética de pelve ou a ultrassom transvaginal com preparo intestinal ajudam, mas só vão detectar doenças em estágios mais avançados, como a endometriose profunda.
Por isso, pacientes em endometriose no estágio inicial, que também pode causar infertilidade e gera dor, normalmente não apresentam alteração nos exames de imagem. Por isso, é tão importante não ignorar a cólica no período menstrual.
Se ocorre a “cólica que ela tem que tomar medicação ou que atrapalha na qualidade de vida, que ela não consegue fazer as atividades normais do dia a dia naquele período. Essa paciente tem que suspeitar de endometriose”, finaliza o ginecologista.